HIPERCENTRO DE BH PRECISA REAVER VOCAÇÃO ECONÔMICA
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HIPERCENTRO DE BH PRECISA REAVER VOCAÇÃO ECONÔMICA

Por Mara Bianchetti no site Diário do Comércio, em 22 de outubro de 2021 às 00:29


Antes reduto de grandes e imponentes negócios, fortes comércios e famílias tradicionais, com o passar dos anos, o hipercentro de Belo Horizonte se tornou um local vazio, apesar da enorme concentração de pessoas que transitam diariamente pelos arredores da Praça Sete.


Tomadas por arranha-céus – alguns abandonados -, nem mesmo as tradicionais ruas que levam nomes de estados, capitais brasileiras e tribos indígenas escaparam da degradação e constantemente são alvos de vandalismo, afugentando todo e qualquer empresário ou investidor, por maior que seja o apreço por aquela que já esteve entre as regiões de metro quadrado mais caro da capital mineira.


Os motivos para a desvalorização são inúmeros, mas passam também pelo processo de urbanização e expansão econômica da cidade, que viria se tornar uma das principais metrópoles brasileiras com o passar dos anos. A literatura indica que o processo de estruturação de Belo Horizonte (fundada em 12 de dezembro de 1897) como metrópole, ocorreu a partir dos anos 1960 e 1970. Desde então, a nova dimensão da urbanização, caracterizada pela expansão e grande fragmentação dos espaços, deu início também a um processo natural de descentralização.


De autoria de Nice Marçal Vilela, a pesquisa “Hipercentro de Belo Horizonte: movimentos e transformações espaciais recentes”, produzida como dissertação à Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2006, revela que a saturação da região, especialmente pelo crescente fluxo de automóveis e pessoas, consolidando-se como local de passagem, e a concorrência com os subcentros contribuíram para acelerar o processo de decadência da área central. Na mesma medida, a realidade experimentada e indicada pelo processo de globalização da economia também influiu no comportamento da realidade urbana, provocando o deslocamento de pessoas, empresas e investimentos para as regiões adjacentes e hoje tão mais ocupadas e valorizadas que o hipercentro de BH.


Ainda segundo a pesquisa, com o avançar dos anos, a região deixou de ser o único foco nas decisões, discussões e estudos referentes à expansão metropolitana de Belo Horizonte. Por volta dos anos 1980, a cidade já contava com uma série de planos voltados para as diretrizes de modernização pretendidas. Já neste processo, o Estado se associou à iniciativa privada e aos setores econômicos em vistas de explorar e atender às demandas da sociedade.


É a partir do início da década de 1990 que os projetos de intervenções em áreas urbanas centrais ganham nova forma e assumem papel de destaque. No Brasil, esse processo teve início com o Plano Estratégico da Cidade do Rio de Janeiro, realizado em 1994. Em Belo Horizonte, as intervenções na área central começam mais tardiamente, talvez por se tratar de uma cidade mais nova e com um centro ainda conservado.

Requalificação

Ainda assim, os projetos de reestruturação, requalificação ou revitalização tornaram-se necessários e começaram a chegar. É o que recorda o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), presidente da Câmara da Indústria da Construção e um dos idealizadores do Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico (Codese) de Belo Horizonte, Teodomiro Diniz.


“Sou investidor do centro de Belo Horizonte e tenho me envolvido especialmente com sua recuperação. A degradação da região vem de anos e ocorreu em virtude do aumento desordenado do fluxo econômico e urbano. Esse movimento culminou com o adensamento de comércios, serviços e pessoas, que comprometeu a mobilidade e a qualidade dos serviços e equipamentos públicos da cidade”, diz.


Diante do cenário e da tendência de descentralização dos grandes centros, novas empresas e empreendimentos empresariais começaram a se deslocar para outras regiões, o que agravou ainda mais a situação. Diniz recorda que esse movimento migratório começou pelos grandes bancos.


“Belo Horizonte era uma forte capital financeira no Sudeste. E, de repente, importantes instituições começaram a migrar para Rio de Janeiro e São Paulo. Em seguida foram as grandes empresas, inclusive as mineiras, que deixaram aqui os escritórios secundários. Sem contar a própria administração estadual. Quando as secretarias estaduais estavam localizadas na região, o funcionalismo trazia fluxo de renda e consumo, movimentando o comércio e a prestação de serviços e os imóveis tinham elevada ocupação”, afirma.


Em relação aos trabalhos de revitalização, o empresário e investidor cita que as primeiras iniciativas adotadas foram por Patrus Ananias, prefeito de Belo Horizonte entre 1993 e 1996, e continuadas por Célio de Castro na administração seguinte, por dois mandatos. Depois, segundo ele, outras ações também foram realizadas por Fernando Pimentel (2001-2009) e Márcio Lacerda (2009-2017), mas nenhuma delas suficientemente eficiente ou perene, uma vez que a região “perdeu sua relevância econômica e não tem mais uma taxa de moradia ideal”.


No entanto, para ele, inclusive enquanto idealizador do Conselho Belo Horizonte, que visa reunir entidades com o objetivo de pensar o futuro da cidade e colaborar para os planos de desenvolvimento econômico, social e urbano, já é passada a hora de retomar planos e projetos em prol da retomada do protagonismo do hipercentro da capital mineira.


E a reabilitação da região passa por vários pontos, como o redirecionamento de suas vocações econômicas, incluindo a cultural (por meio dos parques e teatros), a educacional (com os alunos que transitam pelas ruas e estudam na região), a noturna (por meio de bares e restaurantes), a tecnológica (por meio da economia criativa e todas as suas possibilidades), a médica (com serviços de ponta oferecidos ali).


“A área central tem essas vocações, mas precisa ser dotada de condições adequadas. O Centro tem modelo de cidade compacta, com moradia, serviços e comércio para atender a todos, mas precisa ser qualificado e incentivado. Neste quesito, é bom lembrar que não há nenhum incentivo fiscal para se investir na região. Ao contrário, estimula-se a construção de novos edifícios, com isenção de IPTU durante o período das obras, mas em caso de revitalização, o investidor precisa arcar com mais este custo”, exemplifica.

Revitalização de imóveis pode ser o caminho

Dados da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG) mostram o adensamento, a valorização e a desvalorização da região com o passar dos anos. Para se ter uma ideia, apesar de a região se manter entre os cinco bairros que mais vendem imóveis na cidade, desde 2010, no segmento residencial, o fluxo tanto para vendas quanto para aluguel segue o restante da cidade, e no comercial, houve perda da representatividade.


“O Centro ainda vende mais que muitas regiões, mas perdeu a pujança que tinha no passado e isso ocorreu, justamente, pela desvalorização da região. Isso também fez com que o bairro tenha hoje o maior número de salas disponíveis para venda e aluguel”, explica o diretor da entidade, Leonardo Matos.


Na avaliação de Matos, o movimento global de descentralização não é o principal responsável pelo esvaziamento do hipercentro, até porque, segundo ele, o movimento atinge outras regiões a partir do conceito de estruturação de subcentros. O nível de conservação pesa mais. E mesmo com preços bastante inferiores à média local, a atratividade é quase nula. “São centenas de salas localizadas em grandes prédios comerciais com inúmeros proprietários. Isso torna mais complexa a conservação. Por isso temos vários edifícios precários e até mesmo abandonados”, admite.


A revitalização, conforme o dirigente, é uma questão de política urbana, pois a decadência já tomou conta da região. Para ele, existe a necessidade da criação de uma política visando não apenas a flexibilização de parâmetros urbanísticos, mas também a requalificação de ruas e equipamentos públicos.


O Centro é o bairro que possui mais salas à venda e para alugar, ao mesmo tempo, é o terceiro bairro que mais vende imóveis residenciais. O retrofit seria um caminho, incluindo a conversão de comercial para residencial, mas a legislação municipal é complexa neste sentido. Os empreendedores passariam a enxergar o Centro com outros olhos, e os proprietários dessas salas teriam mais uma opção de finalidade”, defende.

 
 
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